P31 | brincar na escola

Brincar na escola

A escola é o local mais universal da infância. Todas as crianças vão à escola. Por isso, à luz de tudo o que se conhece sobre os benefícios da brincadeira livre e sobre as consequências negativas da sua privação, as escolas devem ser os locais com as melhores condições para brincar, tornando também universal o acesso a esta atividade, que é estrutural na infância.

Para muitas crianças, entre um horário muito preenchido e a impossibilidade de brincar na rua, a escola é o último reduto da brincadeira.

O direito a brincar está consagrado no Artigo 31º da Convenção dos Direitos da Criança das Nações Unidas e foi daí que nasceu o nome do programa: porque visa criar as melhores condições possíveis para a brincadeira livre.

O Comité dos Direitos da Criança emitiu um Comentário Geral com informação sobre a importância fundamental da brincadeira e recomendações específicas para a implementação do direito a brincar por parte dos Estados. As escolas têm de ser agentes nesta mudança.

Mas na escola não se brinca?

O potencial para a brincadeira livre nas escolas é inigualável. Têm espaço disponível, tempo já dedicado aos recreios e muitas crianças para brincar. Mas a que tipo de brincadeiras convidam? Tipicamente desprovidos de materiais e muitas vezes de permissão para brincar, os recreios escolares oferecem poucas possibilidades para criar brincadeiras ricas e inclusivas. São cerca de duas horas por dia com o potencial de criar as melhores memórias da infância, preenchidas com brincadeiras repetitivas e pouco imaginativas e frequentemente associadas a problemas de comportamento e a conflitos, por falta de recursos e de reconhecimento do valor da brincadeira.

O que falta?

Nas escolas faltam recursos materiais e permissão para brincar livremente.

Quando há boas condições para brincar, surgem oportunidades adequadas ao desenvolvimento e às necessidades das crianças e a brincadeira livre floresce. A integração de crianças de perfis e idades diferentes surge espontaneamente, há menos conflitos e as crianças estão mais ativas, mais felizes e mais disponíveis para aprender. Os recreios mudam e, com isso, provocam mudança. 

Isto faz muito sentido se pensarmos que estamos a falar de uma atividade indissociável da infância. Devolvê-la às crianças é simplesmente corrigir algo que está mal. 

Edição demonstradora

Em 2023 realizámos uma edição do P31 numa escola do Porto com o objetivo de demonstrar que é possível introduzir a brincadeira livre numa escola.

Esta edição funcionou por sessões semanais supervisionadas por monitores cuja função era criar oportunidades para as crianças explorarem e brincarem livremente, assegurando as condições de segurança adequadas.

Durante as sessões, as crianças tiveram oportunidade de brincar com “peças soltas”: pneus, caixas, tubos, panos, baldes, paus, rede, bolas, garrafas, tachos, roupas, acessórios, etc. Não tendo, na sua maioria, função definida, estes materiais oferecem inúmeras possibilidades de brincadeira e criam oportunidades para todas as crianças, promovendo a imaginação e a criatividade, convidando a brincadeiras complexas e desafiantes, e estimulando a colaboração, o diálogo e a resolução de problemas.

A diferença entre esta edição demonstradora e o programa em si é que, nesta edição, foram os monitores da Manga a Pé que supervisionaram as sessões, em vez de darmos formação aos profissionais da escola. Além de tudo o resto, esta edição demonstrou a importância da formação para que a escola se aproprie dos conhecimentos, das estratégias e do valor de brincar.