Observar as crianças a brincar deixa-nos entrar no seu mundo por uns instantes. Além de ser fascinante vê-las a aprender e a crescer, convida-nos a conhecer as suas capacidades e a confiar no seu juízo.
O Bingo do Brincar foi desenvolvido pela Manga a Pé para chamar a atenção dos adultos para alguns comportamentos fundamentais associados à brincadeira livre que por vezes passam despercebidos. As crianças estão só a brincar, mas se soubermos olhar vemos o quão importante isso é para o seu desenvolvimento e para o seu bem-estar.
Experimenta!
As crianças estão a brincar? Aproveita para as conheceres melhor.
Clica nos comportamentos que conseguires observar:
A brincar, as crianças encontram muitos desafios e estão naturalmente motivadas para procurar soluções. São muitas vezes soluções diferentes das que um adulto encontraria, mas repara que revelam motivos lógicos e assentes no entendimento da criança sobre o mundo. Isso dá-nos oportunidade de ver através dos seus olhos e de ganhar confiança nas suas capacidades. Se a criança insistir em ter ajuda, em vez de oferecer soluções, experimenta fazer perguntas abertas ("estou a ver o problema, como podemos resolvê-lo?").
Observa a sério como as crianças interagem com os objetos. Às vezes basta-lhes olhar, mas muitas vezes têm que lhes tocar, testar a sua resistência contra uma superfície, ver como voam... Procura expressões de concentração e de curiosidade, e depois vê como querem partilhar as suas descobertas com outras pessoas, nomeadamente com outras crianças.
Manipular objetos e materiais também estimula os sentidos e promove a regulação sensorial. Observa as crianças a explorar a natureza: as várias formas, cores e texturas, as estruturas naturais ou os materiais soltos como a areia ou a terra, insetos e outros animais; tantos elementos interessantes e que estimulam a curiosidade. E se houver água disponível as opções multiplicam-se, e com isso também a alegria e as oportunidades de observação (a roupa molhada é um preço pequeno a pagar pelas aprendizagens que fazem; leva uma muda e todos ficam felizes).
Se olharmos com atenção e confiarmos um pouco, vemos que as crianças são bastante competentes a avaliar o risco e a proteger-se (a partir dos 4 anos de idade, geralmente). A menos que haja perigo efetivo, espera para ver como lidam com o risco antes de advertires, e observa o que conseguem fazer. Repara como procuram o risco: o que ainda não experimentaram e sensações fortes (alturas, velocidade, esconder-se, etc.). E repara que também analisam o risco, como quando estão na beirinha de um sítio mais alto, imóveis, a "ouvir" o seu corpo decidir se tem coragem ou não para saltar antes de decidir avançar ou deixar para a próxima. Não quer dizer que nunca caiam (mesmo quando avisamos e às vezes até por termos avisado), mas evitam ativamente situações para as quais não se sentem preparadas.
Repara como também é frequente zelarem pela segurança das outras crianças, advertindo para terem cuidado ou criando regras novas para evitar que se magoem.
Este é talvez o item mais rápido de observar porque as crianças nunca estão quietas. Ainda bem, porque é essencial para se conhecerem a si próprias. Às vezes "só" correm, saltam e trepam, mas muitas outras escolhem percursos desafiantes (passar por cima, por baixo, pela frestinha) e movimentos e posições incomuns (de cabeça para baixo, pendurados, baloiçam, rodam, etc.). E depois repetem. Muitas vezes. Já não nos lembramos porque é que é tão bom fazer isso, mas é uma bela maneira de aprender sobre o corpo e sobre o mundo!
As crianças conseguem ficar tempos infinitos a olhar para outras crianças a fazer alguma coisa. Observa o que lhes está a prender a atenção. Normalmente são atividades que gostariam de fazer mas ainda não conseguem ou não experimentaram, e por isso prestam atenção a todos os movimentos, aos diálogos, às interações verbais e não verbais. São aulas incríveis.
Do mesmo modo, repara nos ambientes que recriam quando brincam ao faz-de-conta. Muitas vezes entram nos mundos dos desenhos animados, e muitas outras replicam situações da sua cultura, como dinâmicas de família, de trabalho dos adultos, da escola, etc.
A capacidade que as crianças têm para criar desafia as mentes mais inovadoras e disruptivas do mundo dos crescidos. Observa como se dispõem a construir mundos novos, a inventar personagens, a contornar as leis da realidade ("eu tinha o poder de voar"), a usar objetos e estruturas de forma diferente daquela para que foram concebidos, ou a fazer sentido do seu mundo através da representação simbólica com desenhos e peças de teatro. Não era maravilhoso que mantivessem esta flexibilidade de pensamento durante a vida toda?
Os adultos não costumam gostar de brincadeiras que envolvem lutas, mas parecem ser importantes para o desenvolvimento das crianças, nomeadamente para as ajudar a controlar a agressividade. Observa bem uma luta a brincar: as crianças riem-se, vão trocando de posição, de dominante para submissa, a maioria das pancadas é a fingir ou com força controlada, ao mesmo tempo que toleram um contacto mais enérgico do que noutras circunstâncias. Observa como respeitam os limites uns dos outros ou se zangam quando isso não acontece, praticando as regras sociais de convivência, e como vão impondo limites para a brincadeira poder continuar. Uma luta a brincar é diferente de uma luta a sério, em que as crianças estão visivelmente zangadas e a agressão é real, mas é preciso observar antes de intervir para perceber a diferença.